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conomista alerta que trabalhador brasileiro já
recebe menos do que o chinês e ficará ainda mais frágil se a reforma passar.
Maior ativo de nossa economia, o mercado interno será estrangulado, diz
São Paulo – Para Marcio Pochmann, economista e professor da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), a proposta de reforma trabalhista do governo Temer, que modifica mais de 300
artigos da CLT, não vai melhorar a vida do trabalhador nem contribuirá para
criar empregos. Vai apenas dar ainda mais poder aos empresários, com risco de
estrangular o mercado consumidor interno.
Em entrevista à Rádio Brasil Atual ontem (5), Pochmann
afirma que o custo do trabalho, hoje, no Brasil, já é menor que na China.
"Alguns anos atrás, os empresários reclamavam que não tinham condições de
competir com o produto chinês porque lá os salários eram de fome. O que dizer
quando o custo do trabalho na China é 16% maior do que na indústria do
Brasil?", alerta o economista.
O projeto que atualmente tramita em regime de urgência no Senado não
pode sequer ser chamado de reforma, avalia Pochmann, porque o termo pressupõe
aprimoramento, o que não é o caso. Para ele, a ideia de que acordos entre
patrões e empregados tenham prevalência sobre a legislação – o chamado
negociado sobre o legislado –, deve aprofundar o desequilíbrio na relação essas
partes. "Essas proposições tendem a fazer com que predomine o poder
do empresário diante do trabalhador, do ponto de vista da retirada da
eficiência da lei diante da negociação."
O economista observa que a negociação tende a ser levada, cada vez mais
para o sentido individual, o que torna a condição do trabalhador ante o
empregador ainda mais frágil. "Há um desequilíbrio enorme entre aquele que
pode decidir a vida da pessoa, contratando ou não, e aquele que só tem o seu
trabalho a oferecer", afirma, assinalando que todas as modificações
que constam nessa proposta de reforma foram elaborada por entidades patronais. "Não
se encontram sugestões que vieram da parte do trabalhador."
A consequência, em sua visão, será a redução ainda maior do custo do
trabalho, o que pode acabar por estrangular o mercado consumidor interno,
principal ativo do país. "A empresa que percebe num primeiro momento
a reforma como uma possibilidade de redução de custos depois não terá para quem
vender seus produtos. O custo de contratação também é renda em
circulação", alerta. "Com a renda menor, o empresário terá
dificuldade de vender o seu produto, de prestar o seu serviço, pois não haverá
consumo, nem consumidor e demanda para sustentar o aumento da produção."
O argumento de que a Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) é antiquada também é contestada pelo professor, pois a
maior parte dos seus artigos foi alterado ao longo desses mais de 70 anos.
"Dos mais de 900 artigos que a CLT possui hoje, somente 10% deles se
mantêm como estabelecidos em 1943."
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